quinta-feira, 7 de maio de 2009

Judas Desistiu de si...



Ele parecia o mais equilibrado dos discípulos, mas apenas mantinha sob controle suas características doentias.

Seu coração parecia um jardim cujas plantas escondiam os rebentos que floresceriam na mais bela primavera. Mas, sem que ele percebesse, cresciam paralela e sutilmente os espinhos, representados pela ambição, pela fascinação pelas riquezas e pelas preocupações da vida.

Paulatinamente, foi voltando os olhos para dentro de si mesmo. Pensamentos negativos, dúvidas, questionamentos começaram a transitar pelo palco de sua mente. Infelizmente, ele os represou, nunca os expôs para Jesus. Se você quiser evitar grandes problemas no relacionamento com as pessoas que ama, fale com elas, exponha seus sentimentos. Pequenos espinhos podem causar grandes infecções.


Controlar nossas características doentias e não deixar que elas se manifestem não significa superá-las definitivamente. Para superá-las, é necessário reescrevê-las nas matrizes da memória. Mais cedo ou mais tarde elas podem ser sutilmente nutridas e surgir numa fase adulta. Foi o aconteceu com Judas. Ele parecia o mais equilibrado dos discípulos, mas apenas mantinha sob controle suas características doentias. As dos demais discípulos eram mais visíveis e causavam mais tumulto. Portanto, era mais fácil tratá-las. Não tenha medo nem vergonha de seus conflitos. Desista de ser perfeito. O Mestre da Vida nunca exigiu que seus discípulos não falhassem; exigiu, sim, que perdoassem que tivessem compaixão e amor uns pelos outros. Judas se escondia atrás de sua aparência ética. Seus parceiros não o conheciam, nem ele mesmo conhecia suas mazelas psíquicas. Judas ficava perturbado com os paradoxos do Mestre. O Mestre dos Mestres era capaz de uma oratória sem precedentes, mas, logo depois de deixar as multidões extasiadas com suas idéias, procurava o anonimato. Ele se dizia imortal, mas anunciava que morreria como o mais vil dos mortais, pendurado numa trave de madeira. A compaixão por uma prostituta arrebatava-lhe o coração mais do que uma reunião de cúpula querendo aclamá-lo rei.

Jesus era incompreensível para Judas. Nos primeiro tempos o mestre foi fonte de alegria para ele, depois se tornou uma fonte de conflitos.


Jesus dizia de múltiplas formas, que o ser humano só seria livre dentro de si mesmo, se seu espírito fosse transformado, se a fonte dos seus pensamentos fosse renovada, reescrita. Somente a mudança nos solos conscientes e inconscientes pode gerar o mais belo florescimento da ética, da solidariedade, do respeito pelos direitos humanos e, principalmente, de um amor mútuo.

Como Judas pôde traí-lo? Na realidade, Judas foi controlado por seus conflitos. Milhares de pensamentos dominavam o palco da mente desse jovem discípulo. Creio que Judas jamais deixou de admirar Jesus, mas nunca chegou a amá-lo. Amar é o exercício mais nobre do livre-arbítrio. Ninguém controla plenamente a energia do amor, mas pode direcioná-la ou obstruí-la. Judas precisava decidir amar Jesus. Geralmente a obstrução do amor resulta de frustrações e desencontros. Se Judas abrisse seu ser para Jesus, expusesse seus conflitos, falasse das suas decepções seria apaixonado pelo Mestre da Vida.


Judas traiu o filho do homem, e não filho de Deus. Judas não acreditava que Jesus era o Messias. Um crucificado que dizia que morreria pela humanidade não correspondia às suas expectativas. Ele procurava um herói. Ate hoje muitos procuram um Jesus herói. É difícil entender alguém que despreza o poder e ama as coisas simples e aparentemente desprezíveis.

Havia uma mulher de nome Maria. Maria era irmã de Lázaro. Maria desejava que Jesus exalasse o perfume do seu amor. Judas observou a cena e condenou publicamente a sua atitude. Era muito dinheiro para ser desperdiçado. Mostrando ética e aparente espiritualidade, disse que o perfume deveria ter sido vendido e o dinheiro entregue aos pobres. Sua reação era um teatro. Ele já roubava das ofertas destinadas ao sustento da pequena comitiva de Jesus.

Ao condenar Maria, Judas parecia estar preocupado com os pobres, mas pensava apenas em si mesmo. Seu discurso traia seu coração. Dias mais tarde, entregou Jesus por 30 moedas de prata.

Jesus tinha medo de perder Judas, e não de ser traído por ele. Judas saiu de cena. Sua mente estava bloqueada. Sua emoção tensa e angustiada o impedia de pensar. No momento da traição, Jesus provou mais uma vez que estava preocupado reconquistar Judas, dando-lhe outra oportunidade de repensar sua atitude. Judas veio na frente da escolta e o beijou. Jesus se deixou beijar. Embora confuso Judas conhecesse seu mestre. Jesus teve uma atitude ímpar. Fitou o traidor e o chamou de amigo. O Mestre dos Mestres golpeou o coração de Judas com seu amor. Judas não esperava esse golpe. Saiu de cena perplexo.


Se Jesus chamou seu traidor de amigo, quem pode decepcioná-lo? Ninguém! Que erro uma pessoa precisa cometer contra ele para fazê-lo desistir dela? Nenhum. Aos olhos dessas pessoas que se dizem cristãs, Judas deveria ser espancado e ferido. Mas aos olhos de Jesus, Judas deveria ser acolhido e amparado.

Jesus morreu por todos os que falham, erram, negam, traem. A maioria de nós estava de alguma forma, sendo representada por Judas. Judas o traía, e Jesus o perdoava. Mas um grande problema surgiu: Judas seria capaz de se perdoar? Jesus queria proteger a emoção de Judas quando o chamou de amigo. O mestre era um homem seguro e de bem com a vida em situações inóspitas. Seu amor por Judas não cabe no imaginário humano. Judas errava muito, mas era um homem sensível. O sentimento de culpa pela traição seria o maior teste da sua vida.


Todos estavam tensos: Judas, a escolta e os discípulos. Só Jesus dominava seus impulsos. Só ele tinha controle da própria emoção. Ao afastar-se, Judas pôs-se a refletir sobre o comportamento de Jesus e começou a se angustiar. Caiu em si e disse que traíra o sangue inocente. O perdão, o amor e a compreensão não eram alcançados. A culpa o controlou.

Judas não suportou. Pensou em morrer, achando que não haveria lugar na terra para um traidor, sobretudo o traidor do Mestre dos Mestres. Ele não suportaria conviver com seu erro. Ledo engano! Se usasse, para reconhecer seu erro e se arrepender, a mesma coragem que teve para trair, corrigiria a sua trajetória e brilharia. Não seria possível mudar o destino de Jesus, mas Judas mudaria seu próprio destino.


Nunca devemos nos auto-abandonar. Judas se abandonou. Não se preocupou. Desistiu de si mesmo. Suicidou-se. Mas ele queria matar a própria vida? Não! Ninguém que pensa em suicídio ou que pratica atos suicidas quer externar a existência, mas a dor que solapa a sua alma. Nenhum ser humano pensa em dar fim à vida, mesmo quando atenta contra ele. O que ele deseja é dar fim ao sentimento de culpa, à solidão, ansiedade, depressão.

A pessoa que se suicida provoca cicatrizes na alma dos que a amam. É possível superar a mais longa noite e transformá-la no mais belo amanhecer. Os que transcendem seus traumas e erros tornam-se belos e sábios. Aprenda a se perdoar. Não tenha medo da dor. Jamais se esqueça das sementes do Mestre da Vida.

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Agradeço a Carol que me enviou a mensagem por e-mail!

Hoje tem ainda a estréia da coluna "Vértebras", a primeira vez do Diego aqui no Blog!

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